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Terceira Guerra Mundial
Uma guerra provocada unilateralmente pelos EUA com a cumplicidade da Europa. O alvo Principal a Rússia e, indiretamente a china. O pretexto e a Ucrânia.
Tudo leva a crer que está em preparação a terceira guerra mundial, se
entendermos por “mundial” uma guerra que tem o seu teatro principal de
operações na Europa e se repercute em diferentes partes do mundo. É uma
guerra provocada unilateralmente pelos EUA com a cumplicidade ativa da
Europa. O seu alvo principal é a Rússia e, indiretamente, a China. O
pretexto é a Ucrânia. Num raro momento de consenso entre os dois
partidos, o Congresso dos EUA aprovou no passado dia 4 de dezembro a
Resolução 758 que autoriza o Presidente a adotar medidas mais agressivas
de sanções e de isolamento da Rússia, a fornecer armas e outras ajudas
ao governo da Ucrânia e a fortalecer a presença militar dos EUA nos
países vizinhos da Rússia. A escalada da provocação à Rússia tem vários
componentes que, no conjunto, constituem a segunda guerra fria. Nesta,
ao contrário da primeira, a Europa é um participante ativo, ainda que
subordinado aos EUA, e assume-se agora a possibilidade de guerra total
e, portanto, de guerra nuclear. Várias agências de segurança fazem
planos já para o Day After de um confronto nuclear.
Os componentes da provocação ocidental são três: sanções para debilitar a
Rússia; instalação de um governo satélite em Kiev; guerra de
propaganda. As sanções são conhecidas, sendo a mais insidiosa a redução
do preço do petróleo, que afeta de modo decisivo as exportações de
petróleo da Rússia, uma das mais importantes fontes de financiamento do
país. O orçamento da Rússia para o próximo ano foi elaborado com base
no preço do petróleo à razão de 100 dólares por barril. A redução do
preço combinada com as outras sanções e a desvalorização do rublo
agravarão perigosamente o déficit orçamental. Esta redução trará o
benefício adicional de criar sérias dificuldades a outros países
considerados hostis (Venezuela, Irã e Equador). A redução é possível
graças ao pacto celebrado entre os EUA e a Arábia Saudita, nos termos do
qual os EUA protegem a família real (odiada na região) em troca da
manutenção da economia dos petrodólares (transações mundiais de petróleo
denominadas em dólares), sem os quais o dólar colapsa enquanto reserva
internacional e, com ele, a economia dos EUA, o país com a maior e mais
obviamente impagável dívida do mundo.
O segundo componente é o
controle total do governo da Ucrânia de modo a transformar este país num
estado satélite. O respeitado jornalista Robert Parry (que denunciou o
escândalo do Irã-contra) informa que a nova ministra das finanças da
Ucrânia, Natalie Jaresko, é uma ex-funcionária do Departamento de
Estado, cidadã dos EUA, que obteve cidadania ucraniana dias antes de
assumir o cargo. Foi até agora presidente de várias empresas financiadas
pelo governo norte-americano e criadas para atuar na Ucrânia. Agora
compreende-se melhor a explosão, em fevereiro passado, da secretária de
estado norte-americana para os assuntos europeus, Victoria Nulland:
“Fuck the EU”. O que ela quis dizer foi: “Raios! A Ucrânia é nossa.
Pagamos para isso”.
O terceiro componente é a guerra de
propaganda. Os grandes media e seus jornalistas estão a ser pressionados
para difundirem tudo o que legitime a provocação ocidental e ocultarem
tudo o que a questione. Os mesmos jornalistas que, depois dos briefings
nas embaixadas dos EUA e em Washington, encheram as páginas dos seus
jornais com a mentira das armas de destruição massiva de Saddam Hussein,
estão agora a enchê-las com a mentira da agressão da Rússia contra a
Ucrânia. Peço aos leitores que imaginem o escândalo mediático que
ocorreria se se soubesse que o Presidente da Síria acabara de nomear um
ministro iraniano a quem dias antes concedera a nacionalidade síria. Ou
que comparem o modo como foram noticiados e analisados os protestos em
Kiev em fevereiro passado e os protestos em Hong Kong das últimas
semanas. Ou ainda que avaliem o relevo dado à declaração de Henri
Kissinger de que é uma temeridade estar a provocar a Rússia. Outro
grande jornalista, John Pilger, dizia recentemente que, se os
jornalistas tivessem resistido à guerra de propaganda, talvez se tivesse
evitado a guerra do Iraque em que morreram até ao fim da semana passada
1.455.590 iraquianos e 4801 soldados norte-americanos. Quantos
ucranianos morrerão na guerra que está a ser preparada? E quantos
não-ucranianos?
Estamos em democracia quando 67% dos
norte-americanos são contra a entrega de armas à Ucrânia e 98% dos seus
representantes votam a favor? Estamos em democracia na Europa quando
países da UE membros da NATO podem estar a ser conduzidos, à revelia dos
cidadãos, a travar uma guerra contra a Rússia em benefício dos EUA, ou
quando o parlamento europeu segue nas suas rotinas de conforto enquanto a
Europa está a ser preparada para ser o próximo teatro de guerra, e a
Ucrânia, a próxima Líbia?
As razões da insanidade
Para entender o que se está a
passar é preciso ter em conta dois fatos: o declínio dos EUA enquanto
país hegemônico; o negócio altamente lucrativo da guerra. O declínio do
poder econômico-financeiro é cada vez mais evidente. Depois do 11 de
Setembro de 2001, a CIA financiou um projeto chamado “projeto profecia”
destinado a prever possíveis novos ataques aos EUA a partir de
movimentos financeiros estranhos e de grande envergadura. Sob diferentes
formas, esse projeto tem continuado, e um dos seus participantes prevê o
próximo crash do sistema financeiro com base nos seguintes sinais: a
Rússia e a China, os maiores credores dos EUA, têm vindo a vender os
títulos do tesouro e em troca têm vindo a adquirir enormes quantidades
de ouro; estranhamente, este títulos têm vindo a ser comprados em
grandes quantidades por misteriosos investidores belgas e muito acima da
capacidade deste pequeno país (especula-se se o próprio banco de
reserva federal não estará envolvido nesta operação); aqueles dois
países estão cada vez mais a usar as suas moedas e não os petrodólares
nas transações de petróleo (todos se recordam que Saddam e Kadafi
procuraram usar o euro e o preço que pagaram pela ousadia); finalmente, o
FMI (o cavalo de Troia) prepara-se para que o dólar deixe de ser nos
próximos anos a moeda de reserva e seja substituída por uma moeda
global, os SDR (special drawing rights).
Para os autores do
projeto profecia, tudo isto indica que um ataque aos EUA está próximo e
que para este se defender tem de manter os petrodólares a todo o custo,
assegurando o acesso privilegiado ao petróleo e ao gás, tem de conter a
China e tem de debilitar a Rússia, idealmente provocando a sua
desintegração, tipo Jugoslávia. Curiosamente, os “especialistas” que
vêem na venda da dívida uma atitude hostil por parte de potências
agressoras são os mesmos que aconselham os investidores norte-americanos
a procederem da mesma maneira, isto é, a desfazerem-se dos títulos, a
comprar moedas de ouro e a investirem em bens sem os quais os humanos
não podem viver: terra, água, alimentos, recursos naturais, energia.
Transformar
os sinais óbvios de declínio em previsões de agressão visa justificar a
guerra como defesa. Ora a guerra é altamente lucrativa devido à
superioridade dos EUA na condução da guerra, no fornecimento de
equipamentos e nos trabalhos de reconstrução. E a verdade é que, como
escreveu Howard Zinn, os EUA têm estado permanentemente em guerra desde a
sua fundação. Acresce que, ao contrário da Europa, a guerra nunca será
travada em solo norte-americano, salvo, claro, o caso de guerra nuclear.
Em 14 de Outubro de 2014, o New York Times divulgava o relatório da CIA
sobre o fornecimento clandestino e ilegal de armas e financiamento de
guerras nos últimos 67 anos em muitos países, entre eles, Cuba, Angola e
Nicarágua. Esta notícia serviu para que Noam Chomsky dissesse em “The
Laura Flanders Show” que aquele documento só podia ter o seguinte
título: “Yes, we declare ourselves to be the world´s leading terrorist
state. We are proud of it” (“Sim, declaramos que somos o maior estado
terrorista do mundo e temos orgulho nisso”).
Um país em declínio
tende a tornar-se caótico e errático na sua política internacional.
Immanuel Wallerstein refere que os EUA se transformaram num canhão
descontrolado (a loose canon), um poder cujas ações são imprevisíveis,
incontroláveis e perigosas para ele próprio e para os outros. A
consequência mais dramática é que esta irracionalidade se repercute e
intensifica na política dos seus aliados. Ao deixar-se envolver na nova
guerra fria, a Europa, não só atua contra os seus interesses econômicos,
como perde a relativa autonomia que tinha construído no plano
internacional depois de 1945. A Europa tem todo o interesse em continuar
a intensificar as suas relações comerciais com a Rússia e em contar com
esta como fornecedora de petróleo e gás. As sanções contra a Rússia
podem a vir a afetar mais a Europa que a Rússia. Ao alinhar-se com o
militarismo da OTAN onde os EUA têm total preponderância, a Europa põe a
economia europeia ao serviço da política geoestratégica dos EUA,
torna-se energeticamente mais dependente dos EUA e dos seus estados
satélites, perde a oportunidade de se expandir com a entrada da Turquia
na União Europeia. E o mais grave é que esta irracionalidade não é o
mero resultado de um erro da avaliação dos interesses dos europeus. É
muito provavelmente um ato de sabotagem por parte das elites
neoconservadoras europeias no sentido de tornar a Europa mais dependente
dos EUA, tanto no plano energético e econômico, como no plano militar.
Por
isso, o aprofundamento do envolvimento na OTAN e o tratado de livre
comércio entre a UE e os EUA (parceria trans atlântica de investimento e
comércio) são os dois lados da mesma moeda.
Pode argumentar-se
que a nova guerra fria, tal como a anterior, não conduzirá a um
enfrentamento total. Mas não esqueçamos que a primeira guerra mundial
foi considerada, quando começou, uma escaramuça que não duraria mais de
uns meses. Durou quatro anos e custou entre 9 e 15 milhões de mortos.
Termino por aqui, e se tiveres uma ideia acerca do assunto comente!!!
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