O Colapso De Moçambique
2º CAPITULO
Moçambique é um dos países que sobrevive com cerca de 80 por cento
de doações. A desvalorização do metical não é só face ao dólar, mas sim
em relação a muitas moedas.Hoje, no mercado negro, o dólar custa 55 meticais, com pretensão de chegar, nos próximos dias, a 60 meticais. O rand poderá ser comprado a 4 meticais. Imaginemos o que será do povo!?
O salário continua na mesma. Todavia, o que o assalariado compra é importado, sendo que os preços desses produtos são altos.
Falência dos bancos
Há cerca de um ano, considerável número de clientes dos bancos abriram as suas contas em dólares e destes pessoas há com depósitos de cerca de 30 a 50 mil dólares. Nessa altura que abriram as suas contas, o dólar estava a 30 meticais. Hoje, portanto, quando levantam o seu dinheiro são pagos ao câmbio de 53 meticais.
Vejamos: se na altura o banco recebeu quase 10 milhões de dólares dos seus clientes, recebeu pela venda deste montante 300 milhões de meticais. Hoje, devido a depreciação do metical face ao dólar, pelo mesmo valor o banco desembolsa 530 milhões de meticais . A perda, em pouco menos de um ano, é de 230 milhões.
90 por cento das instalações onde os bancos funcionam são arrendados. Os contratos das rendas dos bancos estão em dólares e configuram uma subida de 80 por cento num período de um ano. Como é que os bancos irão sobreviver a este fenômeno???
Mais exemplos
Há bancos que oferecem 12 por cento de juros ao ano, que negociado pode chegar até 17 por cento. Por que os bancos fazem estas ofertas convencendo os clientes a abrirem contas a prazo? Isto acontece porque os bancos não têm liquidez.
O mesmo banco leva o valor depositado e empresta a outros clientes cobrando uma taxa de 22 por cento. Isto é só para manter o nome porque concretamente o mesmo banco já faliu. Que banco pode sobreviver com ganhos de 5 por cento?
Desvalorização do rand
O rand também desvalorizou face ao dólar. Antes o dólar estava a 14 randes, em menos de dois meses custa 17 randes. É verdade que a África do Sul sentiu esta desvalorização de forma diferente que Moçambique porque eles praticamente não importam nada. Tudo é produzido no território sul-africano e os preços mantêm-se. As rendas, na África do Sul, são negociadas em randes e não em dólares, como Moçambique.
Cartões de débito, crédito e o Banco de Moçambique
Recentemente, o Banco de Moçambique anunciou que cada cidadão nacional só poderá gastar anualmente no estrangeiro , usando os seus cartões, 700 mil meticais. É verdade que esta decisão desagradou aos clientes.
700 mil meticais são cerca de 12 mil dólares americanos. Este dinheiro para quem está fora do país para compras ou tratamento médico é uma ninharia.
Se antigamente eram 5000, O mesmo Banco de Moçambique decidiu que cada cidadão tem direito a comprar 2500 dólares. O Western Union do BCI apenas faz transferências se haver dólar e muitas das vezes não consegue satisfazer o cliente e este é obrigado a voltar sempre ao banco.
Brevemente o povo vai começar a criticar o governador do Banco de Moçambique , mas o culpado não é ele. É o país que está em colapso e não tem reservas em dólares no estrangeiro.
Em cada mês, só o Banco de Moçambique sabe a ginástica que tem feito só para pagar a VISA.
Recentemente, aqui na Inglaterra, fui convidado a um jantar realizado no Bulgari Hotel London, de grandes empresários. Sentei na mesma mesa que o senhor Charles W. Sharf, CEO da VISA, e numa conversa em “off” em que participaram outros amigos, ele disse que Moçambique tem muitos problemas com a VISA devido a atrasos nos pagamentos. Existem na mesma lista outros países que não vale apenas referenciar.
Disse que se os problemas prevalecerem, a VISA, a qualquer momento, pode bloquear os cartões moçambicanos. Talvez seja este o motivo que fez com que o Banco de Moçambique tomasse aquelas medidas preventivas. A verdade é que Moçambique não faz exportações e não tem reservas no estrangeiro.
Recentemente o ministro das Finanças, Adriano Maleiane, disse que a inflação média anual não vai ultrapassar os cinco por cento. Ele faltou a verdade. A inflação dos bens e serviços básicos de consumo já disparou muito acima de 30 por cento. Só no pão, estamos a falar de quase 15 por cento. E energia?
Só nos cartórios notariais para o reconhecimento de um simples documento que antes custava cinco meticais passou a custar 25 meticais. Uma subida de 500 por cento. Não estamos no colapso?
Os dois majestosos edifícios , da 25 de Setembro, em construção que pertencem ao Banco de Moçambique estavam orçados em 50 milhões de dólares. Hoje já se gastou mais de 230 milhões de dólares. Isto equivale ao crédito que o FMI nos vai conceder.
Banco de Moçambique versus bancos comerciais.
O Banco de Moçambique tomou medidas drásticas limitando os cartões de débito e crédito, os bancos comerciais, mesmo assim, não param de fazer publicidade dos seus produtos, como cartões de crédito e débito. Por exemplo: o BCI tem oito tipos de cartões de débito e crédito. Ao cabo quando os mesmos cartões atingirem os 700 mil meticais de nada servirão. Volta-se a guardar na gaveta.
Imobiliária
Na área imobiliária, Moçambique poderá atravessar grandes dificuldades nos próximos dias. Os investimentos nesta área poderão cair em 50 por cento. Se, na altura, uma casa valia 500 mil dólares, por exemplo, que correspondia a 15 milhões de meticais, a mesma casa poderá estar a venda pelos mesmos 15 milhões de meticais, mas devido à desvalorização do metical, custará 250 mil dólares. Provavelmente, ninguém irá pagar renda em dólar.
Se uma casa estava arrendada a dois mil dólares mensais, isto é, 60 mil meticais, agora passa a estar a 1000 dólares. A desvalorização é de 50 por cento.
Disse no meu post anterior sobre este mesmo assunto que os bancos estão em crise, apenas o que vão adiando o problema. Neste andar, nos próximos dias é bem provável que os jornais noticiem a falência de alguns bancos moçambicanos.
Foi o que aconteceu com o LEHMAN BOTHERS e CITI BANK americanos. Foram adiando a falência até não se justificar.
Na possibilidade de o Banco de Moçambique fazer uma auditoria aos bancos comerciais, para analisar os seus activos e passivos, não restam dúvidas de que poucos bancos poderiam sobreviver, arrastando para a falência também os seus clientes, como já aconteceu na Europa, como caso de referência Portugal. Há bancos que faliram e os clientes recebem o seu dinheiro a conta- gotas.
Nini Satar INFOTECNOGAME 2016