Entrevista De Afonso Dhakama Pela Estação Televisiva DW Africa
Até fim de março governaremos seis províncias moçambicanas" reafirma Dhlakama à DW África
Algures na Gorongosa, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, concedeu uma entrevista exclusiva à DW África, onde reafirma que o seu partido vai governar em as províncias onde venceu as eleições e nega ataques a alvos civis.
Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique
Moçambique está mergulhado no seu segundo conflito armado desde o fim da guerra civil dos 16 anos. Na cidade o diálogo entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO há muito que foi interrompido, para dar lugar ao barulho das armas no interior do país.
Os moçambicanos andam desgastados com o sangue que se derrama e com a ausência de um sinal de paz no fundo do túnel.
A DW África entrevistou em exclusivo o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que deu a sua versão dos factos.
Algures na Gorongosa, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, concedeu uma entrevista exclusiva à DW África, onde reafirma que o seu partido vai governar em as províncias onde venceu as eleições e nega ataques a alvos civis.
Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique
Moçambique está mergulhado no seu segundo conflito armado desde o fim da guerra civil dos 16 anos. Na cidade o diálogo entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO há muito que foi interrompido, para dar lugar ao barulho das armas no interior do país.
Os moçambicanos andam desgastados com o sangue que se derrama e com a ausência de um sinal de paz no fundo do túnel.
A DW África entrevistou em exclusivo o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que deu a sua versão dos factos.
DW África: Qual é a preocupação da RENAMO neste momento?
Afonso Dhlakama (AD): A preocupação da RENAMO é a preocupação do povo, sobretudo o povo que tem vindo a votar na RENAMO e no seu líder. Em resumo, para mantermos a democracia e para evitarmos o pior em Moçambique, porque o povo promete que se a RENAMO não fizer algo ele, sem liderança, pode sair a rua, prefere mesmo partir tudo e até morrer e isso pode ser um caos para Moçambique. Então, a prioridade da RENAMO, e que é do povo, é governarmos as seis províncias onde tivemos a maioria nas últimas eleições, embora tenha havido fraude, resistimos muito, ficamos acima de todos os partidos. Governar com democracia e não dividir o país como a FRELIMO alega, nem reivindicar a independência de cada província, mas governar pacificamente havendo alternância governativa ao nível local. Esta é a preocupação da RENAMO e minha neste momento.
DW África: A RENAMO tinha prometido governar a partir de 1 de março as províncias onde diz ter vencido nas eleições de 2015. Entretanto isso não aconteceu até agora. Porque?
AD: Não, a RENAMO não disse o dia, disse que a partir do mês de março vai iniciar a sua governação. Hoje, segunda-feira (14.03.), ainda faltam dezasseis dias para terminar o mês. Vamos iniciar essa governação paulatinamente, vamos tomar conta de vários distritos de cada província e estabelecermos as normas, as nossas administrações. Nós não dissemos que a partir de março vamos pegar nos paus e expulsar a FRELIMO, não. De facto, março é este mês, posso lhe garantir que há-de ouvir antes do dia trinta e um deste mês que a RENAMO nas províncias onde obteve a maioria já tomou tantos distritos. Foi o que prometemos e não há nada que esteja fora do prazo.
DW África: Nos atuais confrontos a maior parte das vítimas tem sido civis, segundo a imprensa, contrariamente ao confronto anterior em que a maioria eram soldados do exército. Esta situação deixa muitos cidadãos descontentes, o que em certa medida faz com que a RENAMO não seja tão bem vista como no anterior conflito. A RENAMO tem consciência dessa apreciação?
AD: Absolutamente não. Minha senhora, nasci e cresci em Moçambique, sou moçambicano e estive na FRELIMO antes de lutar pela democracia. O povo moçambicano sabe o que está a acontecer, mesmo a imprensa moçambicana sabe o que está a acontecer. Um e outro frelimista pode tentar transmitir uma imagem negativa. Vou dizer-lhe, este conflito reiniciou há um mês provocado pela FRELIMO. Desde janeiro e fevereriro a FRELIMO contratou norte-coreanos, treinou um grupo de esquadrão da morte em Maputo e esse grupo foi espalhado pelas províncias do centro e norte.
Segundo a FRELIMO era para impedir a governação da RENAMO e esses
grupos andavam de carros de tração as quatro rodas que durante a noite
raptavam membros da RENAMO e até apoiantes, faziam isso num distrito e
no dia seguinte encontravam-se os corpos no mato. E os embaixadores
europeus e africanos acreditados aqui sabem dessa situação. Então, o
departamento da defesa da RENAMO tomou medidas, fez emboscadas entre o
troço rio Save podem entram do sul para o centro, fez outra emboscada
entre o rio Save e Muxúnguè e colocou-se também entre Chimoio e Tete e
entre Gorongosa e o rio Zambeze, em Caia, para interceptar esses grupos
de raptores.
De facto, muitos foram apanhados e a situação já esta
melhor. Ora, nesta tomada de medidas a FRELIMO criou colunas militares,
obrigou os transportadores a serem escoltados, porque os militares da
FRELIMO já não podiam passar com receio de serem atacados, conhecem a
capacidade das forças da RENAMO. Então, as forças da FRELIMO, para
fingirem, obrigaram os camiões e transportadores do sul a transportarem
os soldados. Ora, neste processo dos militares da FRELIMO entrarem nos
carros civis, então a RENAMO dispara contra carros militares calha que
morre um e outro a FRELIMO manda jornalista dizerem que a RENAMO atacou
civis. Sabe muito bem.
A RENAMO sobrevive graças ao apoio da população. A
RENAMO se quisesse matar civis nas suas zonas [já o teria feito], vive
com civis. Não era preciso a RENAMO ir escolher uma estrada para atacar
os carros civis, porque eles circulam pelos distritos. A RENAMO fechou a
logística das forças governamentais, mas a FRELIMO para lançar
propaganda com vergonha por estar a sofrer baixas até hoje não consegue
dizer que vinte, trinta ou quarenta (soldados) mancebos ou Forças de
Intervenção Rápida morrem por dia, falam da população. Não há população
que esteja a morrer, mas um ou outro pode ser vítima dos tiros de um e
outro lado. A situação que posso confirmar na província de Tete é o
seguinte: Os confrontos fizeram com que grande parte [da população] em
Nkondedzi, distrito de Moatize se refugiasse no Malawi. Mas também foi
confirmado que as populações fugiram das atrocidades das forças
governamentais.
DW África: Em relação a isso o Governo diz que não há refugiados de guerra, são familiares e apoiantes da RENAMO que estão no Malawi...
AD: Minha senhora, parece-me que rádios internacionais reportaram a situação há algumas semanas. Há uma agência das Nações Unidas credível, a ACNUR que esteve no Malawi e viu refugiados moçambicanos lá, incluindo crianças e disseram de boca cheia que fugiram das atrocidades das forças governamentais porque as forças da RENAMO entram em confronto com as forças governamentais, e estas levam porrada vingam-se.
Queimam as casas acusando a população local de estar a apoiar
a RENAMO. Aliás, essa é a política [da FRELIMO]. Há dois anos, aqui em
Satundjira, em Maringue, as populações ficaram sem casas, é o mesmo que
aconteceu emNkondedzi. A própria STV, que é o órgão privado daqui,
esteve no Malawi onde entrevistou pessoas, esteve nas zonas abandonadas e
confirmou [tudo]. A ser verdade é propaganda do governador de Tete a
dizer que não são refugiados, mas familiares da RENAMO.
Já são quase dez
mil, então, a ser assim são todos os dez mil familiares [dos membros]
da RENAMO num lugar tão pequeno? Isto é propaganda antiga e que já não
cola. São refugiados, só que a FRELIMO não quer aceitar que o Malawi
lhes conceda o estatuto de refugiados, porque é uma pouca vergonha. O
Malawi é um país tão pequeno, não tem comida para dar e por isso está a
apelar. E agora o vice-ministro da Justiça ou algo semelhante, levou a
TVM, a televisão estatal que faz propaganda para a FRELIMO, levou os
chefes dinamizadores da cidade de Tete para as zonas em causa e
instruiu-lhes previamente para dizerem que as populações fugiram das
atrocidades das forças da RENAMO. Só que já não pega nada porque todo o
mundo sabe porque aquelas populações fugiram.
Mas voltando atrás, não há muitos civis que estão a morrer, foram três emboscadas: na zona do Zove, no troço entre o rio Save e Muxúnguè, a segunda emboscada na zona do Zonde, Catandica, no troço entre Chimoio e Tete, e a última emboscada foi no troço entre a vila da Gorongosa e a ponte sobre o rio Zambeze em Caia. Portanto, na área de Nhamapanza e Nhamajaja.
DW África: Nessas emboscadas, pelo menos numa delas morreu o motorista de uma transportadora, foi uma emboscada contra autocarro de passageiros...
AD: Não era de passageiros, minha irmã. Isto aconteceu em Vonde há uma semana, o machimbombo era da empresa Naji cheio de FADEMOS, Forças Armadas de Moçambique, que saiam de Chimoio para Tete. Pode usar a Rádio Deutsche Welle e as suas fontes, vai ter as provas. Eu não tenho que aldrabar e nem fazer propaganda. Então o motorista foi atingido, sei muito bem, foi num sábado às nove horas. Não havia nenhum elemento da população, morreram trinta e nove FADEMOS. Pode morrer um e outro elemento da população, não estamos a fazer a guerra santa, pode apanhar um, temos de dizer que sim. Agora dizer que a RENAMO está a atacar civis não, porque seria um problema sério, a RENAMO sobrevive graças ao apoio da população.
DW África: Também durante os primeiros confrontos o assunto RENAMO era gerido pelo ministério da Defesa, mas numa determinada altura passou para o ministério do Interior. Quando há confrontos quem responde é a Polícia. Acha que esta é uma tentativa de minimizar o estatuto da RENAMO ou de transformar a RENAMO numa espécie de desordeiros ou simples marginais?
AD: Não. Quando entraram elementos da RENAMO depois do Acordo Geral de Paz, no tempo do Chissano, ele não gostou assim como todos os estrategas da FRELIMO. Viram que as FADEMOS (Forças Armadas de Moçambique) não iriam servir os interesses da FRELIMO, porque a FRELIMO sempre continuou a controlar as Forças Armadas, ela criou [outro] exército como alternativa, a Polícia de Intervenção Rápida, agora FIR, Forças de Intervenção Rápida, controladas pelo ministério do Interior. Este é um exército 100% [da FRELIMO], porque não há mistura com a RENAMO. É um exército constituído por antigos militares que lutaram contra a RENAMO durante 16 anos e os jovens que são incorporador no exército não pertencem a uma polícia qualquer. É um exército próprio porque as FADEMOS têm muita desconfiança.
Embora os nossos homens não sejam generais e nem são considerados, mas a FRELIMO desconfia das FADEMOS porque eles também não aceitam esse controle e quando são mobilizados eles fogem, enquanto a FIR é controlada pelo ministério do Interior e não é uma polícia. Esta FIR é um autêntico exército com mais condições do que as FADEMOS. Têm carros de combate, armas pesadas, ganham bem e têm quarteis próprios.
Portanto, ás vezes alguns generais das FADEMOS a comandar na FIR. É o
que está a acontecer. Não é para minimizar a RENAMO ou para o desprezar e
atribuir a RENAMO um estatuto de bandidos. Não pelo contrário. É que a
FRELIMO sofreu baixas e as FADEMOS são a alternativa à FIR. Mas mesmo
assim, a FIR está também a sofrer baixas. Atualmente a FRELIMO não tem
efetivos. Tentou lançar ofensivas na Zambézia, em Nampula e aqui perto
da Gorongosa, mas colocamos todos eles fora de combate.
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